[Desabafo] - A mídia especializada.... em enganar.

A mídia possui um papel imensamente importante na hora de informar o comprador sobre o que esperar de um determinado jogo ou console, servindo como a ponte entre a indústria e o consumidor. Infelizmente, muitas vezes essa posição acaba fornecendo poder de mais para certas instituições, com situações bastante complicadas como a venda de análises positivas ou marketing nebuloso, sendo apenas alguns dos problemas que vem acometendo essa indústria nos últimos anos.

Mas o maior problema com a mídia atual está na, aparente, preferência que ela tem tido em espalhar desinformação como se fossem fatos, muitas vezes causando problemas sérios para desenvolvedores e consumidores. Recentemente tivemos uma certa notícia vindo da Eurogamer, sobre o NX ser um console portátil com controles destacáveis, até o anúncio oficial da Nintendo esse tipo de informação não passa de um rumor e deveria ser tratada como tal, mas isso não impediu uma série de outros sites de noticiarem como um fato e a própria Eurogamer não deixa exatamente claro que se trata de um rumor em seu artigo original.


Isso causou um problema sério para a Nintendo, pois criou uma expectativa para o console que no final, pode acabar não sendo comprida, causando insatisfação de possíveis compradores e por consequência impactando as vendas. O contrário também é possível, se o rumor se mostrar verdadeiro, grande parte do efeito “surpresa” do anúncio seria perdido e diversas pessoas já teriam uma opinião pré-formada do aparelho, antes mesmo dele atingir o mercado. Estimar o estrago que esse tipo de desinformação pode causar é uma tarefa fácil, basta vermos as vendas de um recente título da GearBox. Battleborn foi taxado pela mídia como um competidor para Overwatch, um jogo cuja as mecânicas eram aparentemente similares e que apelavam para a mesma demografia. A verdade não poderia estar mais longe disso, no final são títulos que nem ao menos podem ser colocados dentro do mesmo gênero, quanto mais colocados como adversários em uma mesma categoria.


Outro jogo que recentemente vem sofrendo com essa prática de “desinformar” é We Happy Few, o jogo foi anunciado com um Rogue-like, com fases geradas automaticamente e foco em sobrevivência. Mas por conta de seu estilo artístico, quando foi primeiramente anunciado, diversos canais da mídia o colocaram na mesma cesta da franquia Bioshock, um jogo de tiro com enfoque em história. A semelhança entre os jogos não passa da aparência, com a desenvolvedora de We Happy Few inclusive vindo a público e dizendo que Bioshock sequer foi uma inspiração para o seu novo jogo. Infelizmente o estrago já havia sido feito, assim que entrou em acesso antecipado (early acess) o jogo foi atacado por não cumprir com as expectativas, com a crítica oficial indo de ruim até no máximo mediano. O problema é que muitos canais que fizeram a cobertura do jogo, criticaram coisas como a falta de uma história profunda ou personagens marcantes, características que não são comuns em jogos rogue-like com morte permanente, outras foram além, com comparações diretas a franquia Bioshock, dizendo que o jogo não é parecido e para as pessoas evitarem o desapontamento.

Esse ciclo, de criar uma expectativa infundada em torno de um produto e depois noticiar que o dito produto é incapaz de atingir essas expectativas, é absurdamente danoso, pois afeta tanto a desenvolvedora que perde vendas, quanto o consumidor que legitimamente poderia gostar daquele produto, mas é privado disso, por conta de toda a atmosfera de decepção que é criada em torno dele.

Dentre todas as práticas duvidosas que eu já vi sendo feitas pela mídia especializada, essa é com certeza a mais repugnante.

Acho que deixei mais do que claro que o problema não está em apresentar rumores, mas sim em apresenta-los de uma forma que os transmita como verdades, para lá na frente, simplesmente ignorar tudo o que foi dito até o momento e passar a culpa para a produtora, que magicamente foi incapaz de cumprir com essas expectativas artificiais. Sobre o material de marketing, teaser e trailers raramente são feitos para informar o jogador sobre as mecânicas do jogo, servem mais para apresentar o universo e criar interesse.

Informações de como o jogo funciona, vem de gameplays, artigos, previews, reviews, etc... E seria completamente irreal o estúdio criador desses produtos, ser também responsável por criar todo esse material informativo, já que por natureza, ele não pode ser completamente confiável. Por outro lado, você tem a mídia especializada, que tem como função reportar e informar os consumidores, mas quando esta começa a usar a sua influencia para criar uma expectativa irreal, para logo depois vir e massacrar esse mesmo produto por não ser capaz de atingir a expectativa que ela mesmo impôs, então ai eu vejo um problema sério.

E até podemos entrar no mérito que é culpa da desenvolvedora por não explicar direito, mas novamente, dos três casos citados, em dois temos comentários diretos dos desenvolvedores que vão contra o que era noticiado pela mídia. Mas que valor tem essas palavras, quando dezenas de sites de notícias já noticiaram outra coisa? Ou se a visão de grande parte dos consumidores já está corrompida, por uma expectativa artificial? É exatamente como você citou, é irreal esperar que todos deem ouvido a uma empresa, quando o contato dela com o consumidor não é constante (como acontece com 99% dos estúdios grandes), ainda mais quando dezenas de outras empresas, especializadas e entendidas no assunto, já contaram outra versão da "mesma" história e já conseguiram suas legiões de seguidores.