Quando os consoles portáteis desta geração despontaram no horizonte, eu vaticinei que esta geração de videogames de bolso não seria apenas a última, mas também fracassaria em obter uma base instalada significativa e talvez até morresse prematuramente.
Meu argumento era duplo: primeiro, que à medida que o preço dos portáteis se aproxima (ou se equivale como foi o caso) do preço de um console de mesa, um dos principais incentivos de se obter um portátil vai pelo cano. Contraste o PS Vita (cuja versão mais barata custa 250 dólares, quase o mesmo que um PS3 acompanhado do que é potencialmente um dos melhores games da plataforma – “Uncharted 3″) com o clássico Game Boy. Em seu lançamento, o console portátil definitivo da Nintendo custava 89 dólares, enquanto o SNES custava mais que o dobro, 199 dólares.
GBA e Game Cube
Essa relação de consoles de bolso custando menos que os tradicionais se manteve como tradição por muito tempo. O Game Boy Advance, por exemplo, vendia em 2001 por cem dólares, enquanto o Game Cube custava 220 dólares quando foi lançado.
Como você pode ver, existia historicamente um bom incentivo financeiro que fazia muitos voltarem pra casa das lojas com um console no bolso em vez de um debaixo do braço. A menos que a Sony planeje imitar o que a Nintendo fez recentemente, cortando a etiqueta do PS Vita drasticamente e passe a vender o console no prejuízo, um PS3 é bem mais atraente que um PS Vita.
Essa estratégia se chama loss leader, a propósito, e não é novidade na indústria gamer. Ela funcionou tão bem para o 3DS (no sentido de estimular a base instalada, o que atrai desenvolvimento e resulta em mais games) que até mesmo eu considero pegar um, por mais que eu só queira jogar dois games nele.
A coisa tá feia pro PS Vita, e talvez seja vem volta.
Eu diria que cortar o preço do PS Vita seria uma boa ideia, mas a Sony perdeu o timing da estratégia: o período de fim de ano, em que geralmente as vendas de consoles esquentam, teria sido o momento certo. A Sony ficou de braços cruzados e deixou a Nintendo tomar a dianteira, e agora a situação se vê transparentemente no gráfico acima: o 3DS vendeu 28 milhões de unidades, ao passo que o Vita mal passou dos 4 milhões (e vendeu menos que o PSP recentemente, o que é simplesmente uma vergonha).
A situação está tão desesperadora que a Sony decidiu empregar táticas de marketing multinível pra atrair compradores: por tempo limitado, se você convencer um amigo a comprar um PS Vita, você ganha um cartão de US$ 20 na PSN e 1.000 Sony Reward Points. Num arroubo de supervalorização da campanha, a Sony está limitando a promoção para os primeiros 10 que você convencer a comprar o console (como se um sujeito convencendo todo o seu círculo social a comprar um console que está vendendo tão pouco fosse uma possibilidade real).
O preço do aparelho é uma barreira inegável à adoção, mas sem dúvida a situação seria melhor se o catálogo de games do Vita fosse um pouco menos anêmico. “Call of Duty – Black Ops Declassified”, que seria o primeiro FPS portátil a se beneficiar com os joysticks duplos do Vita, falhou miseravelmente em se tornar o killer app que a Sony esperava que fosse. “Little Big Planet” é excelente, “Uncharted: Golden Abyss” idem, mas o ditado popular já nos ensinou (e o número de vendas do console confirma) que uma andorinha só – no caso, duas – não faz verão.
A situação futura não parece muito promissora, também. A Capcom fechou um acordo com a Nintendo que fará com que o 3DS seja a casa exclusiva do “Monster Hunter” pelos próximos três anos, uma série que no passado proporcionou vendas milagrosas de consoles moribundos da Sony. E com o Vita exibindo números de vendas tão baixos, não me surpreenderei se as softhouses embarcarem em estratégias parecidas por livre e espontânea vontade. Desenvolver pra um console com adesão de apenas 4 milhões de usuários? Pra quê?
E a Sony já deixou claro que o preço do Vita não vai baixar tão cedo. O que é um anúncio bastante estúpido, aliás, porque eu diria que isso fere o potencial do Vita mais do que o ajuda. Quem vai se interessar em investir no aparelho quando sabe que haverá um desconto eventualmente? Esse é o tipo de coisa que se anuncia com poucas semanas de antecedência, e logo antes de algum período de explosão consumista como o Natal. Ora, estamos ainda em janeiro; quanto mais gamers ficam em cima da cerca e não compram o aparelho por causa da desconfiança que ele baixará de preço lá pelo final do ano, pior pra Sony.
Ainda há alguém com interesse em pegar um Vita (e eu estou totalmente errado em minha análise) ou vocês concordam comigo que será mais um excelente aparelho que fracassará por teimosia de sua fabricante?
Fonte:Tecnoblog
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